DIREITO DE TENTAR

Um relato real, direto e contundente sobre algumas verdades que muitos querem esconder.

A história que vou relatar, abaixo, é real e aconteceu, muito recentemente
com um grande amigo e colega de profissão que, obviamente, por motivos de
sigilo, deixarei de dizer o nome.

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POR UMA FRESTA…

Um clique. Um pequeno facho de luz. Um portão que se abre, minimamente, de forma quase imperceptível, o suficiente para passar um envelope. Um novo clique. E o portão se fecha. Essa história, vou deixar para contar no final…

“Nada será como antes”. “Um novo mundo surgirá”. “As pessoas serão muito melhores”.

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NEGACIONISTAS

Uma crônica sobre a difícil decisão que temos que tomar para salvar nossas vidas e o nosso país.

Quem aqui já ouviu falar no holocausto? O assassinato em massa de mais de seis milhões de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial? Pessoas brutalmente mortas, a grande maioria delas por asfixia nas terríveis câmaras de gás nazistas?

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QUANDO O TEMPO PARA…

“Dr. André, minha vida acabou!”. Escutei a terrível frase há cerca de 12 anos, mas ela nunca mais vai sair de minha cabeça. Não pelo que a frase significa, mas pelos motivos que fizeram minha cliente pronunciá-la.

O fim da vida talvez seja a questão que mais incomoda as pessoas. A tão temida MORTE pode ser considerada não somente o maior medo de quem está vivo, mas, também, um dos maiores mistérios que nunca resolveremos, pois é muito difícil aceitar que a vida tenha um fim.

Do ângulo de quem foi e não voltou, nada podemos dizer, sem ter de apelar para aqueles que creem não somente na vida após a morte, mas, principalmente, acreditam que é possível existir uma comunicação entre os dois mundos.

Para quem foi e voltou (refiro-me às pessoas que foram consideradas clinicamente mortas e retornam às suas funções biológicas normais), tudo é um grande mistério. Apesar da existência de vários pontos comuns nas chamadas experiências de quase-morte, a ciência pouco ou nada pode dizer sobre o fato, pois, quando o assunto é morte biológica, ou se morre, ou se permanece vivo. A quase-morte não é cientificamente passível de estudo, salvo se o cientista “abrir” a sua mente para longe dos paradigmas que regem a ciência. E, fazendo isso, para a sua comunidade, ele deixa de ser cientista, pois fé e ciência parecem ser coisas inconciliáveis.

O grande problema ocorre dentro da mente de quem esta vivinho e morre de medo de morrer. Pesquisas demonstram que 95% por cento das pessoas temem a morte e que 5% dos entrevistados mentem. Todos tememos a morte, sem exceções. Até mesmo aqueles para quem a vida é um fardo.

A vida de minha cliente havia acabado porque seu carro novinho tinha sido colidido na sua parte traseira por outro carro. Vou explicar melhor: minha cliente não sofreu um arranhão sequer. Nenhuma de suas unhas bem pintadas tinha perdido uma única lasca. Ela se referia, apenas, ao carro.

Usando de uma prática do Facebook, se você que está lendo essas palavras está sentindo uma vontade de voltar no tempo e esganar minha cliente, ou de arrancar-lhe as unhas com uma chave turquesa (se possível, com os dedos junto), compartilhe! Fato é que, enquanto eu pensava em alguma resposta bem cruel e ácida para responder a tamanha futilidade, comecei a caminhar pela minha sala e a olhar pelas janelas.

Do prédio onde meu escritório funciona, a partir de um determinado andar, da para ver o hospital Mater Dei.

Naquela fração de segundo, lembrei de quando minha irmã operou de hérnia de disco. Naquela época, enquanto aguardava a cirurgia ser realizada, caminhei pelos corredores do hospital, quando me deparei com um setor, onde as pessoas pareciam estar mais tristes do que o normal. Era a sala de espera da CTI. Para quem não sabe, CTI e UTI são os setores para onde são encaminhados os pacientes mais graves.

A lembrança daquele dia tornou ainda mais fútil e risível a frase que brotou dos lábios de minha cliente. Um lado meu queria muito lhe dizer umas verdades, tão aparentes naquele momento para mim. Mas, quem somos nós para julgarmos nossos semelhantes? A excessiva importância dada à uma batida no carro novo, provavelmente, era a manifestação de uma dor maior, em outro setor da vida.

Sorri para a cliente, passei o preço do meu serviço (neste momento, ela nada sorriu) e segui com a minha vida.

Obviamente, ganhamos a ação e, ironicamente, ao conhecer melhor a cliente, nas quase duas horas em que conversamos, aguardando a audiência de instrução, descobri que ela estava passando por um severo processo de separação judicial, com todos os requintes de crueldade possíveis (guerra pela guarda de filhos, partilha tumultuada de bens, pensão alimentícia atrasada, etc.).

Enfim, fiquei muito feliz por não tê-la julgado e condenado pelo crime de futilidade dolosa!

Vocês devem estar achando que a “moral da história” é que não devemos julgar, correto? Errado! Isso me parece bastante óbvio e tento sempre correr do que é óbvio. O que realmente quero contar para vocês é um momento pelo qual acabei de passar em minha vida.

Há cerca de um mês, recebi uma ligação de minha irmã mais nova. O tom de voz, por mais que ela tentasse disfarçar, sinalizava que alguma coisa grave tinha acontecido. Minha irmã ligava do hospital: nossa mãe tinha sofrido uma queda, durante à noite, e batido com a cabeça. E estava indo para CTI, para “ficar em observação”.

Quem me conhece pessoalmente sabe o quanto sou apaixonado por meu trabalho. Sou do tipo que sempre tem diante de si um microcomputador, um iPad, um iPhone; enfim, estou sempre conectado.

Naquele momento, o tempo literalmente parou! A agenda lotada, todos os compromissos urgentes, tudo desapareceu num passe de mágica. Nada mais importava. Desci rapidamente para o hospital e encontrei minha mãe, consciente, mas muito assustada com a iminente internação. Ela deveria ficar no CTI por três dias, três longos dias!

E assim foi feito. Num piscar de olhos, tornei-me uma das pessoas angustiadas e apreensivas que, há cerca de doze anos, vi na ante-sala do CTI. Pessoas para quem o tempo nada mais significava! Para quem o tempo havia parado!

Minha mãe, graças a Deus, saiu do CTI quase três dias depois. Parece pouco, mas dois dias e meio naquele lugar é tempo demais. E tinha tanta gente ali, sofrendo, há meses, que qualquer outro assunto perde sua importância.

Ela saiu dali para um quarto e depois para casa. Voltou quase um mês depois, quando operou e, com a bênção de Deus, ficou livre do hematoma que começara a incomodar. Graças à misericórdia divina, na época ela recuperou-se da cirurgia. Mas algo permaneceu em minha mente, que eu gostaria de compartilhar com vocês.

No momento em que o tempo parou, fiquei pensando nas vezes em que a visitei, nas vezes em que conversamos, nas vezes em que ríamos juntos, de piadas sem graça, contadas por nós dois. Observadores externos dizem que sou um “bom filho”, que sou presente. Então por que naquele tempo inerte, sentado ora na sala de espera do CTI, ora no quarto do hospital, pareceu que tinha tanto tempo que eu não a via?

Lembrei das centenas de vezes em que conversei com minha mãe enviando mensagens SMS, lendo emails; enfim, ocupado demais para dar toda a atenção que ela merecia. Lembrei de quanto tempo perdi, querendo abraçar o mundo, que por um capricho platônico, se recusa a ceder aos meus encantos.

Posso, enfim, deixar a tal “moral da história” para vocês. Não esperem o tempo parar para curtir as pessoas a quem amam. Aproveitem cada segundo da vida com os entes queridos, pois, numa fração de segundo, tudo pode mudar.

Cada segundo passado com nossos filhos, irmãos, pais, amigos, enfim, com todos aqueles a quem amamos, nunca deve significar um segundo a menos, e sim um tempo a mais.

Convivam mais, aproveitem mais, amem mais. Pois a vida como conhecemos só passa uma vez. A vida é um jogo de uma única partida, apitado por Deus – Juiz Supremo – a quem cabe, somente a Ele, dizer em que momento ela começa e, principalmente, o momento em que nos chama para Seus braços e apita o fim do jogo!

Essa é a moral da história que queria contar a vocês! Amem e vivam o amor, antes que a morte nos separe! Antes que seja tarde! Antes que o tempo pare!

André Mansur Brandão
Diretor-Presidente

ANDRÉ MANSUR ADVOGADOS ASSOCIADOS

E se ser feliz for uma opção?

Vou contar para vocês uma historinha que ouvi há muitos, muitos anos. Quem me contou foi um médico, que hoje é um de meus melhores amigos. Anos se passaram e a historinha continua cada vez atual e mais presente em minha vida. Sempre que posso, conto para alguém, imaginando que ela possa ajudar outras pessoas tanto quanto me ajudou. Vamos a ela?

Um homem caminhava em direção a uma pequena padaria para realizar suas compras matinais. Ao entrar, depara-se com uma cena que lhe chamou muito a atenção. Um outro senhor, de vestes humildes, estava sentado exatamente na porta de entrada do estabelecimento, ao lado de um pequeno cãozinho que, sem qualquer motivo aparente, chorava baixinho, muito baixinho.

Mesmo incomodado com aquela estranha cena, o homem entrou na padaria e realizou suas compras. Ao sair, todavia, não resistiu, e perguntou ao humilde senhor que ainda estava sentado, no mesmo lugar, exatamente na mesma posição, ao lado do cãozinho que continuava a choramingar, baixinho, muito baixinho:

– O senhor desculpe incomodá-lo, mas por que esse cachorrinho que está sentado ao seu lado está chorando?

– O outro homem prontamente respondeu:

Ele chora porque está deitado sobre um prego e isso lhe causa dor!

Perplexo com a inusitada resposta, vinda daquele senhor de vestes tão simples, o estarrecido homem torna a perguntar:

– Mas que cachorro idiota! Se o prego tanto o incomoda, por que ele simplesmente não se levanta e sai de cima e segue sua vida?

Neste momento, o senhor que estava sentado, levantou-se, olhou fixamente para o homem que o inquiria, e disse:

– O cachorrinho não se levanta porque não está doendo o suficiente.

Dizendo isso, sorriu e saiu caminhando em direção a um destino incerto…

Eu poderia parar aqui, deixar vocês sozinhos e pensativos, refletindo sobre a bonita estorinha. Mas não consigo. Em minha profissão, e durante toda a minha vida, vi muita gente, que a exemplo desse cãozinho, aprendeu a conviver com o sofrimento e com a dor. Eu mesmo, por diversas vezes, flagrei-me nesta situação.

Qual seria, contudo, o motivo pelo qual muitos de nós permanecemos deitados sobre pregos, vivendo por anos e anos situações de angústia, de dor e de sofrimento, sem nada fazermos para, ao menos, aliviar nosso sofrimento?

A resposta não é simples.

Muitos acreditam na purificação pela dor. Muitas religiões até mesmo pregam o sofrimento como forma de purificação e de evolução. Pedindo perdão pela arrogância, ouso discordar. Acredito que Deus tenha criado o homem para ser feliz. Assim, nosso estado natural é a felicidade. O sofrimento e a dor são anomalias da alma, que Deus nos permite sentir, para que possamos ter referenciais. Para que possamos saber o que buscar. E o que Deus nos programou para buscar é a felicidade.

Não creio, todavia, que o principal motivo que mantém muitos de nós “deitados sobre pregos” seja uma opção pelo sofrimento, visando a nossa purificação. Acredito, sinceramente, que a principal causa de permanecermos em dor seja o medo que sentimos de enfrentar o sofrimento e de rompermos as barreiras das angústias que a vida, às vezes, impõe.

Sair de cima do prego pode ser muito, muito doloroso. Inconscientemente, imaginamos que uma dor controlada e “familiar” possa ser muito “melhor” do que uma dor desconhecida. Romper um estado de sofrimento não é nada fácil e muitos optam por ficar, a exemplo do cachorrinho da estória, deitados sobre as agruras, por temer a dor maior, que poderá vir se levantarmos em direção ao desconhecido.

Quebrar o ciclo da dor, das angústias e do sofrimento não é nada fácil. Ao contrário. Das empreitadas da vida, talvez seja a mais difícil. Mas é exatamente o que Deus quer de nós. É o que Ele, em sua bondade máxima, deu aos seus filhos: o livre arbítrio! A possibilidade de escolher.

Assim, ESCOLHA SER FELIZ!

Se voltarmos no tempo, em nossas mentes e nossos corações, poderemos encontrar o exato ponto em que nossos sonhos se perderam. Não convido ninguém a viver no passado, mas peço que visitem os momentos mais doces de suas vidas e recuperem seus sonhos mais puros. Pois descobrindo o momento em que os nossos sonhos foram abandonados, podemos saber, exatamente, o momento em que deitamos sobre pregos; o momento em que começamos a sofrer. Pois sofrer nada mais é do que parar de sonhar!

Sair do sofrimento pode ser uma dura tarefa. Respeito muito e nunca julgarei os que escolherem o caminho da dor menor, ou seja, o caminho do sofrimento. Apenas rogo que se lembrem de que ser feliz pode ser uma opção! E se encontrarmos na memória de nossa alma a imagem de como seria a vida sem o sofrimento e sem a dor aos quais nos acostumamos, essa dura caminhada poderá ser menos difícil.

E o prêmio final será uma vida mais leve, uma vida mais pura, uma vida mais feliz!

Pois, assim como sofrer, SER FELIZ PODE SER UMA OPÇÃO!

Sei que muitos de nós associamos o momento da virada de um ano a uma possibilidade de mudanças. Planos são feitos e sonhos são rebuscados. Quem sabe este é o momento de uma decisão em nossas vidas… Por que não? Por que não AGORA?!

Desejo a TODOS, que tiveram a paciência para ler estas palavras, que o ano que se aproxima seja um ano maravilhoso. Ou melhor, que seja O ANO! O primeiro de uma série de inúmeros outros anos maravilhosos, vividos a partir da escolha de SER FELIZ!

 

André Mansur Brandão
Diretor-Presidente

ANDRÉ MANSUR ADVOGADOS ASSOCIADOS

Tragicomédia da vida real

Mistério na Serra do Rola-Moça. Uma história de amor e crime! Ou será que nada disso aconteceu?

Quem conhece Minas Gerais, sabe como são lindas as nossas montanhas. Cidades e vidas construídas em um relevo de tirar o fôlego até mesmo de Deus, que as criou.

Perto de Belo Horizonte, capital Mineira, exite um pequeno povoado, pertencente ao município de Brumadinho, chamado Casa Branca. Um pequeno paraíso incrustado no meio da mata, descoberta pela coragem dos que vencerem as sinuosas e estreitas estradas que levam até lá.

Quase chegando em Casa Branca, no alto da serra, quando a estrada se cansa de tanto subir, existe um estratégico mirante, que proporciona um dos mais lindos pores-do-sol de que se tem notícia nas Minas Gerais.

Lugar certamente criado por Deus, caprichosamente, para a contemplação, sempre visitado por casais enamorados, e pelos que não se fartam de curtir o belo espetáculo que a natureza proporciona.

O local fica dentro do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, assim apelidado por um conto popular, segundo o qual, após uma cerimônia de casamento, marido e mulher cavalgavam em destino à sua casa, quando o cavalo, guiado pela mulher, caiu na ribanceira, indo ao fundo do grotão.

O marido, desesperado, teria igualmente cavalgado em direção ao abismo, em busca de sua amada, tendo ambos morrido, de forma trágica, em uma curta estória de amor e morte.

1º. ATO

Uma jovem mulher, com idade entre 20 e 25 anos, olhava fixamente para o abismo. Estranhamente, começou a caminhar, lentamente, em direção à borda do penhasco, ficando, a cada passo, em situação cada vez mais perigosa.

Percebendo que algo na situação não estava normal, algumas das pessoas que por lá estavam, registrando o espetáculo da natureza em seus celulares e mentes, chamaram a polícia que, rapidamente, compareceu ao local.

Tentativas de contato, sem resultado. A cada aproximação dos valentes policiais, a mulher se encaminhava, ainda mais, para a beira do abismo. Ignorava os apelos, como se estivesse hipnotizada por uma tristeza profunda, sem se importar com a beleza deslumbrante do local, principalmente do sol, que se preparava para se por.

A tensão não parava de crescer.

Repentinamente, um homem que passava vagarosamente pelo local, conduzindo uma robusta motocicleta, aproximou-se da cena. Sem muitas delongas, desceu do poderoso veículo e aproximou-se da mulher, dizendo-lhe:

– Menina, você está muito linda para morrer. Posso me aproximar?

Era um homem de pouco mais de 30 anos. Apesar da pouca idade, já apresentava seus cabelos levemente grisalhos. A pele bronzeada pelo sol envolvia o corpo forte e musculoso.

Estranhamente, a mulher que até então parecia estar totalmente anestesiada pela dor, prostrada diante do abismo que parecia ser seu destino, consentiu com um gesto afirmativo a aproximação do homem que, sem hesitar, postou-se ao seu lado.

Pela eternidade que duraram alguns segundos, ambos ficaram ali, parados, um ao lado do outro, olhando ambos para o lindo pôr do sol, que já se iniciara. A pequena multidão que se formara assistia a tudo, calada, um misto de tensão e esperança.

O homem, então, virou-se de frente para ela, que o acompanhou no movimento sutil. Como nos filmes de ação, mesclados por um romance improvável, algo aconteceu naquele olhar. Ambos ficaram, um de frente para o outro, tendo o abismo como companheiro, e o lindo espetáculo da natureza, ao fundo, como paisagem, em um verdadeiro show de luzes e sensações.

O homem, de forma inusitada, mágica e muito carinhosa, pediu à bela mulher:

–  Você me daria um beijo antes de se atirar no abismo?

Ela sorriu, de forma tímida, e, um pouco envergonhada, fechou os olhos, consentindo silenciosamente. Ele, então, aproximou-se ainda mais, até que seus corpos se colassem. Deu-lhe um beijo na boca, longo e romântico, para os aplausos emocionados de todos que acompanhava a inusitada cena de amor.

No exato momento em que seus lábios se separaram, o homem, ainda segurando as delicadas mãos da garota, olhou profundamente nos olhos dela e perguntou-lhe:

– Porque você quer se matar? Se consegue ser mais linda que o mais lindo dos pores de sol?

Ela respondeu:

– Eu queria tirar a minha vida porque os meus pais não me deixam vestir de mulher, nem aceitam que eu opere e faça mudança de sexo.

Até agora ninguém sabe se foi ela que pulou ou foi o misterioso homem que a empurrou…

2º. ATO

Para tranquilizar os leitores que estão, nesse momento, estarrecidos com o trágico final, informo que essa estória jamais aconteceu. Recebi, como piada, em um grupo de whatsapp, e resolvi dar alguma utilidade a ela.

Milhares de transsexuais são vítimas no Brasil de diversos tipos de violência, sejam as clássicas agressões corporais, sejam as mais cruéis formas de tortura psicológica e emocional. Até mesmo dentro de suas casas, onde, a grande maioria tem de conviver entre a agonia do anonimato e a covardia do preconceito, inclusive daqueles que são biologicamente programados para lhes amar.

Somos um País de machões, que exercem suas fobias de forma impiedosa contra homens e mulheres trans, simplesmente porque não os conhecemos, ou não os entendemos. Para milhares de pessoas, fatos simples de nosso cotidiano, tornam-se um verdadeiro pesadelo, como, por exemplo, frequentar um banheiro público.

Motivos de piadas, a vida dos transsexuais fica mais difícil a cada dia, motivo pelo que, usei do recurso do humor, ainda que em sua forma cruel, para chamar a atenção das pessoas de bem para nossos irmãos, que vivem em dor, e sofrem pelo escárnio e pela maldade dos chamados “normais”.

Eu me sinto em dívida, sim!

Vergonhosamente, confesso que não somente já ri de piadas de mau-gosto, envolvendo a comunidade trans, como já as propaguei, até que, há alguns anos, eu me deparei com uma cena que mudou a minha maneira de pensar.

Moro em um bairro de classe média de Belo Horizonte. Adoro sair aos domingos, pela manhã, comprar pães quentinhos e tomar um delicioso café da manhã, com queijo Minas e, de vez em quando, é claro, saborear nossos deliciosos pães de queijo.

Meu bairro é cheio de padarias e sempre costumo andar, entre uma e outra, para achar exatamente aquela que acabou de tirar uma fornada bem fresca e quentinha.

Em um desses domingos, quando retornava à minha casa, uma cena me aterrorizou, marcando-me para o resto de minha vida.

Uma mulher trans encontrava-se desmaiada, toda machucada, jogada no canto de uma calçada. Os ferimentos pelo corpo eram muitos, mas o que mais preocupava era um corte enorme na cabeça da mulher.

As pessoas passavam por ela e nada faziam. O ferimento da cabeça já tinha uma parte coagulada, o que demonstrava que, seja lá o que tivesse acontecido com ela, já fazia algumas horas.

A alguns metros de distância havia uma farmácia. Corri até lá e chamei o balconista (o farmacêutico não estava). Ele, prontamente, foi até o local comigo e disse que a mulher precisaria de pontos com urgência. E de fazer um exame de imagem. Aconselhou-me que não tocasse nela, pois eu poderia agravar as lesões, no caso de algo na coluna.

Eu sou Advogado, gente, e já trabalhei em diversos casos envolvendo lesões graves. Já prestei socorro em acidentes em estradas, já vivi um bocado de coisas bem complexas. Mas confesso: poucas experiências na vida me afetaram tanto como a daquele dia.

Acionei a Polícia Militar, que chegou quase instantaneamente. Alguma alma bondosa já tinha chamado o serviço de emergência médica – SAMU, que chegou quase quarenta minutos depois de acionado, mas somente dez minutos depois da polícia.

Rapidamente, os hábeis profissionais iniciaram os primeiros atendimentos. Em seguida, a mulher foi imobilizada na maca e colocada, ainda inconsciente, dentro da viatura, que seguiu, certamente, para algum hospital de traumas, provavelmente o Hospital João XXIII, um dos melhores do Brasil, muito pouco divulgado pela mídia, lamentavelmente.

ATO FINAL

As estatísticas ainda são muito confusas, mas nunca a comunidade trans foi tão vítima de atos extremos de violência e preconceito praticados por criminosos, disfarçados de pessoas comuns. Os crimes motivados pela homofobia, igualmente, propagam-se pelo Brasil afora.

Uma análise superficial poderia indicar que existe uma relação clara entre os dois fatos acima. E provavelmente há, já que muitas pessoas, mesmo que digam o contrário, ainda estão longe de aceitar como normais as manifestações “não convencionais” da sexualidade humana.

Um fato adicional, todavia, chama particularmente a atenção, obrigando-nos a ampliar a avaliação desses fenômenos: dispararam as estatísticas dos crimes praticados contra as mulheres. Igualmente crescem os crimes motivados pelo racismo.

O que todos os casos acima possuem em comum? O ódio!

Sim!

A transfobia, a homofobia, a violência contra as mulheres e as manifestações expressas de racismo encontram o seu fundamento no mesmo sentimento inferior, no caso, o ódio que, levado a extremos, transforma cada vez mais pessoas em agressores e assassinos.

Entender a correlação entre esses fatos sociais é indispensável. Não somente para a implementação de políticas públicas que garantam os direitos das vítimas, reais e potenciais, mas, principalmente, para fins de uma prevenção efetiva, que passa, certamente, pela educação familiar, escolar e social.

Aprendi que o amor é sentido, mas o ódio pode ser ensinado. E, se pode ser ensinado, pode ser evitado, combatendo-o na sua origem, através da conscientização de quem o propaga.

Seja conscientemente, através de atos expressos e criminosos contra nossos semelhantes, seja na forma de piadinhas pretensamente “inocentes”, que transformam o ódio latente em um sentimento hereditário.

“Eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens!”

A frase de Pitágoras é perfeita em sua essência. Ousamos, todavia, agregar a ela uma outra citação, de autoria ainda não confirmada, para mim:

“Os defeitos dos filhos são filhos dos defeitos dos pais”.

Se queremos mudar o mundo para melhor, que tal começarmos mudando a nós mesmos? Afinal, que tipo de mundo queremos para os nossos filhos?

É hora de olharmos para dentro de nós e examinarmos se, consciente ou inconscientemente, estamos contribuindo, ainda que de forma mínima, para um mundo pior. Pois a última coisa que um pai quer deixar para seus filhos é o ódio, como legado!

Fiquem com Deus!

André Mansur Brandão
Advogado e Escritor