Alerta: contém spoilers, mas ninguém liga, pois já contaram o filme todo, mesmo. Que prazer sádico é esse do ser humano, que corre para assistir a um filme, somente para contar para os outros depois? Se você for um desses seres monstruosos, procure ajuda profissional, pois eu já procurei.
O filme é um sucesso total. Mais de duas horas de pura diversão e entretenimento. Mesmo as estatísticas divergindo, dizem que “Os Vingadores” superaram, e muito, a bilheteria de Titanic.
Eu assisti e posso garantir: vale muito a pena, mesmo com Tony Stark, o Homem de Ferro, morrendo no final.
Pronto, falei!
Essa triste informação, na verdade, pouco importa, em função da trapaça que fizeram no enredo do filme. No último episódio, como todos se lembram, o Bem tinha perdido feio para o Mal, representado pelo vilão Thanos, que conseguiu exterminar metade do universo.
Apesar dessa vitória triste e inesperada do Mal sobre o Bem, que contraria a essência de tudo em que acreditamos, o jogo tinha sido limpo.
Venceu o melhor, digo, o pior, digo, o Mal. Deu para entender?
Na verdade, a vitória veio para quem explorou melhor as suas possibilidades e não mediu esforços para vencer. O Bem até que tinha jogado bem, mas o Mal entrou mais focado, mais determinado.
Era tão grande a vontade do Mal em vencer, que Thanos chegou ao extremo de assassinar uma de suas filhas, para conseguir a pedra que faltava para lhe dar o poder supremo para acabar com o mundo.
Logo, tecnicamente, ele mereceu a vitória. No filme anterior, como todos devem se lembrar, “Os Vingadores” perderam feio.
Mas o VAR, da Marvel, anulou não somente os lances finais, mas o próprio jogo. Tony Stark inventou uma máquina do tempo e o jogo foi reiniciado. Para quem não sabe, VAR são recursos eletrônicos usados em alguns esportes coletivos para tentar reduzir o erro dos árbitros, principalmente em partidas de vôlei, basquete e, agora, no futebol.
No caso de “Os Vingadores”, esse lance de “máquina do tempo” foi uma grande trapaça, em minha humilde opinião. E, por conta dessa maracutaia, todos os que tinham morrido no episódio passado, voltaram a viver.
Peço licença na narrativa para contar para vocês um acontecimento que me marcou muito, durante a sessão do filme.
Apesar de quase não conseguir retirar meus olhos da tela 3D, uma situação de real emergência chamou-me ao banheiro. Eu tinha de eliminar uma parte dos vários litros de refrigerantes que havia tomado, desde o início dos trailers do filme.
Sei que refrigerante faz mal para a saúde, mas …
Graças ao fenômeno ilegal da venda casada, que ocorre dentro de quase todos os cinemas espalhados pelo Brasil, eu fui obrigado a comprar um enorme balde de desentupidor de pias (eufemismo para refrigerante), junto com a pipoca, que vinha em um recipiente feito na forma da poderosa manopla, que concede poderes supremos sobre a humanidade.
Fui obrigado a comprar, pois era a noite de lançamento do filme, e eu não acharia nenhum juiz disposto a conceder uma liminar, obrigando a empresa que administra as salas de cinema a me vender a pipoqueira-manopla, sem ter de comprar a porcaria do refrigerante.
Até porque certamente a grande maioria dos juízes deveria estar assistindo ao filme, também. E eu tinha de ter aquela manopla. Vai que ela funciona, mesmo?
Fato é que, como o trem (refrigerante) tava lá, com canudinho, geladinho e borbulhante, eu acabei tomando. E muito. O que me levou ao banheiro.
Minha falta de força de vontade e minha fraqueza em resistir àquele líquido geladinho, todavia, fez-me assistir a uma cena inusitada.
Quando eu estava quase chegando à porta do mictório (banheiro), o pessoal da sessão que tinha acabado exatamente naquele momento saiu, comentando o filme.
Um pós-adolescente temporão, com os olhos rasos de lágrimas, disse para seu namorado: – “Nossa, amor, eu não aguentei quando o Homem-Aranha apareceu, vivinho. Estou chorando até agora.”
Abraçaram-se, ambos emocionados, e se beijaram, seguindo em direção à saída das salas de cinema.
Essa cena, contudo, encheu-me de raiva e de repulsa. Que direito eles tinham de dar um spoiler daqueles, sabendo que, quem saía da outra sala de cinema, ainda não tinha chegado nessa parte? Achei uma imoralidade.
Aquela revelação, inoportuna e inconveniente, todavia, produziu em mim uma verdadeira epifania. Meu cérebro expandiu-se em níveis absurdos e comecei a sentir tremores e calafrios.
Meu coração batia forte, meu corpo suava e senti minhas pernas levemente molhadas e trêmulas.
Corri para o banheiro, rapidamente, e fiz o que deveria ter feito antes, o que me fez melhorar grande parte dos sintomas.
Ao sair, contudo, minha mente não parava de pensar. Se o Homem de Ferro, com sua inteligência e grana, conseguiu fazer o tempo voltar, com sua engenhosa máquina do tempo, a Marvel tinha inventado o conceito de franquia eterna.
Nenhum personagem mais seria mortal. Todos poderiam ser ressuscitados, ainda que mortos em batalhas. Assim, o Bem poderia até perder para o Mal, mas no próximo filme, os derrotados mortos poderiam estar lá, mais vivos do que nunca, e ter uma segunda chance.
Sim, o Homem-Aranha aparece vivinho. Podem comemorar. Eu também o acho muito carismático.
Thor, que no início do filme aparece como depressivo e alcoólatra, encontra com a sua mãe no passado, e conversa com ela, antes que ela morresse.
Foi nesse momento do filme que eu realmente chorei.
Chorei calado, em silêncio, até que meu filho e minha esposa perceberam, e, mesmo sem que eu explicasse nada, abraçaram-me carinhosamente, aquecendo meu corpo com o calor que somente quem tem uma família deliciosa pode receber.
Minha mulher e meu filho sabiam no que eu estava pensando. E se pudéssemos, realmente, voltar no tempo?
Eu regressaria quase cinco décadas e, mesmo sendo um bebê de pouco mais de um ano, diria ao meu pai o quanto o amo e o quanto ele ainda iria se sentir orgulhoso de mim.
Pediria que ele não ficasse com raiva de Deus, por ser chamado de forma tão precoce, e de ser privado do convívio de sua família, a quem sempre se dedicou e amou.
Diria que, mesmo saindo tão cedo de nossas vidas, deixou um legado de decência e honestidade, que não somente nos honrou, como nos referenciou em nossas vidas.
MINHA MÃE?
Ah, mãe, se eu pudesse voltar no tempo e ter mais alguns instantes para conversar com a senhora, como Thor teve no filme… Eu lhe diria que, com a sua passagem, todos nós perdemos nosso chão, devido à forma tão brusca e cruel como tudo aconteceu.
Eu lhe diria, entretanto, mamãe, que não se preocupe. Para nós, o chão pouco importa, pois durante toda a sua vida, e antes de partir, a senhora nos ensinou a voar.
E estamos voando até hoje, mãe!
Seu neto está lindo, um pequeno homem de 1,95 metros de altura e um caráter que nos enche de orgulho. Sem contar que cuida dos cabelos dele, exatamente como a senhora sempre ensinou. E se transformou em uma pessoa muito melhor do que eu jamais serei.
Sua irmã de coração, Denilde, minha madrinha e mãe-preta, tem cuidado muito de nós, já que seremos sempre crianças-adultas, vivendo e sobrevivendo nesse mundo de Deus.
Ah, eu voltaria no tempo e conversaria muito com ela. Contaria todas as novidades e, principalmente, que tudo vai indo muito bem, no melhor dos mundos.
Com um beijo, ela se despediria de mim e diria:
– Eu sei, filho, eu sei! Mamãe ama vocês todos demais. Agora, tenho de ir. Mas estarei sempre com vocês.
– Mãe, quando chegar a hora, se eu merecer, irei para perto da senhora. Mas pretendo demorar. Ainda tenho muito o que fazer por aqui!
CENAS PÓS-CRÉDITOS
Quem assistir ao filme, já vou avisar: não há cenas pós-créditos.
Assim que começar a aparecer aquele monte de informações na tela, e a tocar aquelas músicas de “fim de filme”, podem se levantar e irem cuidar de suas vidas.
No penúltimo filme, eu tentei sair durante os créditos, mas a funcionária do cinema, de uma forma quase policialesca, impediu-me. Quando mostrei para ela um habeas corpus preventivo, que me garante o direito de ir, vir, permanecer e de sair antes e depois dos créditos, ela me cochichou no ouvido:
– Ainda tem filme!
Aí, claro, eu esperei. Sem contar que ela era bem grande e musculosa. E não me parecia nada amistosa. Era melhor ficar.
Dessa vez, nada disso. Terminou, terminou. É como se a Marvel nos dissesse:
– Vão embora, pensem nas mensagens do filme. Pensem nas possibilidades. Não vamos fazer isso por vocês. Obrigado por encherem nossas contas bancárias em bilhões de dólares. Voltem em breve!
SPOILERS FINAIS
Como eu já disse, o mais interessante personagem da saga, em minha opinião, morre. O homem-de-Ferro, Tony Stark, bilionário, playboy e filantropo, como ele mesmo se definiu, entrega sua vida para o bem da humanidade, mas não resiste e faz a sua passagem, deixando esposa e uma linda filha.
Sim, ele tem esposa e uma linda filha nesse episódio. Mas nem fiquem tristes. No próximo, a máquina do tempo, que ele mesmo inventou, pode fazê-lo renascer. Voltar no tempo traz muitas possibilidades.
Outro personagem muito legal da série, Capitão América, tem um final bastante inusitado.
Como “Os Vingadores” conseguem reverter o genocídio de Thanos, o herói-galã ficou responsável por devolver as Joias do Infinito ao local e momento de onde foram retiradas, usando a máquina do tempo.
Ocorre que ele decide ficar na década de 1940, para viver ao lado de Peggy, a mulher que sempre amou. E ser, com ela, feliz para sempre.
Ou não!
Uma cena muito interessante, quase no final do filme, é que, enquanto “Os Vingadores” aguardavam seu retorno do passado, mas antes de saberem de sua decisão de se unir à Peggy, Capitão América ressurge, confortavelmente sentado em banquinho, próximo à máquina do tempo, bem idoso.
Idoso, mas ainda em ótimo estado, o que pode ser um indicativo de que a reforma da Previdência do Bolsonaro pode dar certo. Desde que compremos dos russos uma máquina do tempo. Dizem que já inventaram, mas tem sido usada para envelhecer vodka.
De qualquer forma, antes de voltar ao passado, para viver uma vida simples e apaixonada com sua amada, Peggy, Capitão América entrega seu escudo para outro super-herói, o Falcão, que aceita o encargo.
Parece que será o primeiro Capitão América negro da história. Na verdade, o segundo, já que o primeiro sempre será Barack Obama.
THANOS, O VILÃO!
Thanos é um personagem inspirado em Thanatos, outro vilão da Marvel. A semelhança de som do seu nome com a palavra “ânus” pode insinuar, de forma subliminar, que se trata de um “cuzão”. Nada disso.
Não se trata de um vilão comum. Thanos é um filósofo do mal. Nem sei se seu plano para destruir o mundo era tão cruel ou ilógico, tirando essa ideia meio clichê de dizimar toda a população da Terra, para começar do zero.
Olhemos em volta. O que temos no mundo, hoje?
Miséria extrema, fome, corrupção, ganância, países ricos destruindo o mundo, com poluentes e gases cada vez mais tóxicos e uma falta de moral generalizada.
O que ele propõe, afinal, nada mais é do que um apocalipse, para higienizar a face da Terra.
Suas intenções, todavia, nada possuem de nobres. Seu pragmatismo cruel e sua falsa noção de racionalidade escondem o fato de que Thanos deseja limpar o mundo para impor o seu próprio conceito do que é certo e errado.
Não se mata uma pessoa para combater sua infecção.
O ser humano, em sua essência, é bom. Pelo menos, esta é a crença que me mantém vivo e esperançoso com relação ao futuro.
A grande maioria das pessoas possui lados bons e ruins. Trabalhando a ética, a moral, e a consciência divina das pessoas, podemos ter um mundo muito melhor.
E é nesse mundo que eu desejo viver.
O mais grave pecado de Thanos, todavia, é que ele não deseja criar um novo mundo somente para dar uma nova chance à humanidade. Ele deseja controlar e dominar esse “novo mundo”, ditando o seu peculiar conceito do que seja certo e errado.
E, querer isso, torna-o não somente um vilão, mas um ser digno de repulsa, pois quer retirar do ser humano um de seus maiores direitos: o livre-arbítrio!
Mas, afinal, não é exatamente isso que todos os ditadores fazem?
EMPODERADAS
Uma cena muito legal no filme mostra a influência que o movimento feminista mundial tem sobre as produções cinematográficas. Em uma cena, todas as heroínas da Marvel, unem-se contra Thanos e o atacam.
Infelizmente, não conseguem vencê-lo, missão que ficou a cargo do Incrível Hulk, personagem masculino, o que pode ser um indicativo de que o cérebro de Hollywood ainda pode ser machista.
Ou não. Na verdade, quem se importa com isso? É apenas um filme, correto?
SPOILERS FUTUROS DA VIDA REAL
Se uma mente politicamente incorreta fosse escrever o próximo episódio da saga, e quisesse mexer com todos os mimimis da sociedade, não seria nada difícil.
Imaginem só.
Capitão América, após um divórcio altamente litigioso, separa-se de sua mulher, que leva metade de sua fortuna avaliada em mais de seis bilhões de dólares. Entra na Justiça, requerendo de Falcão o seu escudo de volta, o que provoca grandes transtornos sociais e uma verdadeira guerra entre brancos e defensores dos movimentos negros.
Em sua defesa, Falcão limita-se a dizer que, ao receber o escudo, e seguir a tradição do Capitão América, “ele tinha um sonho!”
Homem Aranha assume sua homossexualidade, muda-se para o Rio de Janeiro. Começa a praticar ginástica olímpica, mas desiste de fazer filosofia, devido ao corte de verbas federais nas universidades.
O Incrível Hulk assume seu lado besta, desiste de ficar indo e vindo entre duas personalidades e monta um grife de roupas plus size, que se torna uma das 100 empresas mais lucrativas, de acordo com a Revista Forbes.
Lanterna Verde, herói da DC Comics, concorrente da Marvel, surge, imponente, com uma missão para lá de polêmica: tentar proteger o mundo contra a Ameaça Vegana, que destrói vorazmente toda a vegetação do planeta Terra. Além disso, Lanterna tenta desmontar todas as barragens da Vale, antes que mais pessoas morram soterradas pela ganância daqueles para quem a vida humana nada Vale.
Será imperdível!
MORAL DA HISTÓRIA?
Aproveitem a vida!
Ao contrário do filme, o tempo não volta. O tempo caminha, lenta ou velozmente, mas sempre para a frente.
Amem mais, perdoem rapidamente, vivam de uma forma mais intensa, sem se esquecer de que pode vir um amanhã. Se vier, se Deus nos premiar com mais dias, mais anos, aproveitem.
Apreciem de forma prazerosa cada segundo que a vida lhes proporcionar de forma harmônica, equilibrada, porém apaixonada.
Um dia, vamos morrer. Mas, todos os demais dias de nossas vidas, vamos viver.
A vida nos dá uma quantidade limitada de tempo para usufruirmos, para fazermos algo que sobreviva a nossa passagem. Deus não permite que o tempo volte. Mas nos deu uma coisa muito mais valiosa: começar cada dia como se fosse uma nova vida.
E a certeza de que, melhor do que fazer o tempo voltar, é aproveitar o tempo, enquanto estamos por aqui.
Para que, no dia em nos formos, deixemos mais do que tristeza e dor: deixemos saudades, memórias e, principalmente, exemplos que poderão ser seguidos pelas gerações futuras.
Esse, sim, é o conceito de vida eterna.
Sendo assim, vamos viver?
Saúde e paz para todos.
Que Deus encha nossas vidas de tudo do bom e do melhor.
André Mansur Brandão
Diretor-Presidente
ANDRÉ MANSUR ADVOGADOS ASSOCIADOS