Não se trata de um simples desafio, mas o maior desafio de minha vida profissional. Querem saber qual é ?

Vou contar um segredo para vocês. Mas, por favor, não comentem com ninguém, ok?

Há mais ou menos 25 anos, quando eu fiz vestibular para Direito, na PUC Minas, eu me deparei com uma situação totalmente nova na hora de fazer a redação: a organização do vestibular não tinha dado tema.

O candidato teria que deduzir o tema, acreditam? A partir de uma interessante charada que a Comissão Elaboradora tinha criado, de forma totalmente inovadora.

Se já era assustador com o tema expresso, imaginem tendo que adivinhar.

Redação sempre foi muito importante em todos os vestibulares, ainda mais para um curso de Direito. Eu não poderia falhar, pois isso comprometeria o meu sonho de ser Advogado.

Na parte das instruções iniciais da redação, havia, somente, cópias de recortes de jornais de diferentes épocas, quase todas sobre desastres, tragédias e acidentes famosos, que causaram muita comoção nacional.

Mesmo que os recortes me falassem de vidas destruídas, eu gastei apenas 30 segundos para decidir o meu tema: escolhi falar de RECONSTRUÇÃO!

Sim, por mais que eu visse fotos de tragédias por todos os lados, eu somente me imaginava seguindo a vida em frente, apesar de toda a dor e a tristeza que aquelas imagens me causavam.

De um jeito ou de outro, a vida seguiria e, o que era algo tão doloroso, poderia ser, de alguma forma, um grande aprendizado.

Modéstia às favas, minha redação ficou quase perfeita e tirei uma nota excelente, quase total, o que me encheu de orgulho.

O que eu não sabia, na época, é que, provavelmente, eu tinha me saído tão bem ao “acertar o tema” pela forma como minha família me ensinou a ver a vida: aconteça o que acontecer, siga em frente. Caiu, levante-se!

Exatamente no ano de 2000, comecei a vivenciar o meu sonho de advogar. Sim, nesse fatídico ano de 2020, completei 20 anos de intenso exercício profissional. E novamente a vida, dessa vez no mundo real, onde tudo dói mais, resolveu esfregar em minha face recortes de uma tragédia que ainda nem terminou de acontecer.

Eu, que já tinha atravessado tantas coisas, que já tinha presenciado e participado do sofrimento e da vida de milhares de pessoas, quase sempre endividadas, nem em meu mais assustador pesadelo, imaginaria que algo do tamanho e das proporções dessa pandemia pudesse acontecer.

Quase um milhão de pessoas mortas pelo mundo afora. Vidas ceifadas de forma cruel e dolorosa. E tantas outras pessoas doentes ou incapacitadas pelas terríveis sequelas desse terrível coronavírus.

Mães e pais de família desempregados, aglomerados nas filas da morte dos bancos oficiais, lutando pelos auxílios emergenciais, sem saber, sequer, o dia de amanhã.

Milhares de pequeninas empresas fechando aos montes, a cada dia, por todo o Brasil, deixando um rastro de falências e sonhos desfeitos pelo caminho.

E bilhões de pessoas, pelo mundo afora, respirando o medo, temendo sufocar, sem oxigênio, nas UTIs da morte, de onde tantas histórias trágicas brotam.

Mas é hora de começar a reconstruir!

Não temos tempo a perder!

Se algo que essa pandemia tem que ensinar é o quanto somos precários nesse mundo. Frações de segundos separam vida e morte. Eu bem que sei disso.

No ano de 2015, passei pela maior dor que já senti em minha vida. Minha mãe, de 77 anos, faleceu, de forma repentina, vitimada por um maldito câncer, que levou a pessoa que mais me amou em toda minha vida. Morte acelerada pela falha de maus profissionais da área médica. Mas isso é assunto para outro momento.

Fato é que, quando minha mãe faleceu, eu perdi meu chão. Graças a Deus, antes de partir, minha mãe tinha me ensinado a voar.

A mim, a minha família, e a todos que tiveram a honra de conhecer essa mulher tão extraordinária, que tantas lições me proporcionou.

Quando eu achava que ia cair, as lições dela, minha família e minha fé ilimitada em Deus, mantinham-me de pé.

Eu seguia, caminhava, caía. Levantava e seguia andando, cambaleante. Caia de novo. Mas, sempre seguia.

Até que eu parei de cair e fiquei de pé. Olhei em frente, e segui caminhando, sempre me lembrando dos ensinamentos: caiu, levanta!

E a mesma luz que me inspirou, no momento daquela redação, de 25 anos atrás, mostrou que eu deveria seguir, pois, aconteça o que acontecer, a vida segue.

E é isso que quero dizer a vocês, que nesse momento, estão sofrendo, independentemente dos motivos: vamos sobreviver! A vida vai seguir. É hora de seguir vivendo.

Hoje, com 50 anos de vida, e tendo assistido a tanta dor, e tanto sofrimento, inclusive meu próprio, posso lhes dizer: estamos prontos para o desafio que já se mostra presente.

Estamos prontos para a reconstrução de um novo mundo, do tal novo normal que tanto dizem na TV.

Queremos fazer parte desse novo mundo, de forma ativa e atuante, como fizemos do “velho”. Não como simples figurantes ou expectadores, mas como atores principais, no filme mais importante de nossas vidas.

Convido todos vocês para se juntarem a nós, nessa caminhada.

Reparem que comecei falando de mim, e depois, passei a falar de nós. Sim, pois somente NÓS, juntos, iremos conseguir vencer os maiores desafios de nossas vidas.

Dizem que todo esse cenário de dor e morte tornará as pessoas melhores.

Eu sou um otimista!

Acredito, sinceramente, que o sofrimento lecione. Assim como a dor. E que muitas pessoas aproveitarão esse triste momento da humanidade, e se transformarão em uma versão melhor de si mesmos.

Eu creio em um novo mundo melhor. Um mundo que todos ajudaremos a reconstruir, ainda que nem todo o pior tenha acontecido. Ainda que, muitas vidas ainda possam ser levadas, ceifadas. Ainda que …

Seja como for, temos de começar a reconstrução AGORA!

Pois o futuro chegou mais cedo. E já estamos atrasados. Pois a vida é rápida, muito rápida.

Sigamos com Deus! Saúde e paz!

André Mansur Brandão

André Mansur Brandão
Diretor-Presidente / Advogado / Escritor

ANDRÉ MANSUR ADVOGADOS ASSOCIADOS

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